sexta-feira, 21 de março de 2014

Bagagens: Estados Unidos, Washington

{Fachada da Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos}

 
Assim como católicos vão ao Vaticano e muçulmanos vão a Meca, eu queria ir à maior biblioteca do mundo. Foi assim que começou o desejo incontrolável de ir a Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos, em Washington. Reunidos os recursos, a peregrinação foi possível em outubro de 2011. Semelhante a qualquer templo, a grandiosidade impressiona, e não só a mim. Reza a lenda que durante uma visita de Boris Yeltsin, ainda no governo Clinton, o presidente russo caminhou do Capitólio até a Biblioteca do Congresso ouvindo um guia e olhando para o chão. Ainda atento ao caminho, entrou na Biblioteca e só depois de algum tempo olhou para cima. Ao observar os detalhes do prédio, exclamou para quem estivesse em volta escutar: “vocês fizeram tudo isso e nunca tiveram um czar!?”.

O interior todo feito em mármore foi uma precaução tomada depois que mais de um incêndio destruiu o edifício e o acervo. Com a redução no uso de madeira, a biblioteca não seria consumida pelo fogo como as anteriores. O prédio recente ficou pronto em 1º de novembro de 1897, o que traz outra curiosidade interessante sobre sua decoração interna. Entre as imagens de mármore que adornam o salão de entrada estão crianças com feitios de anjos barrocos. Mas, por ser um projeto consideravelmente moderno, uma delas está ao telefone!

Porém, o que interessa mesmo é o que está guardado lá dentro. Trata-se do maior acervo do mundo e de alguns dos tomos mais importantes da história da palavra escrita, como um exemplar da Bíblia de Gutenberg. As exposições temporárias merecem a atenção do visitante. Numa das que estava acontecendo na época, pude ver o primeiro mapa conhecido de que consta a palavra América. A visita guiada é gratuita e fundamental, mas não dá acesso a diversas salas de leitura, inclusive à sala principal. Quando descobri isso, tive um segundo de completa frustração. Logo depois, veio o momento de êxtase: para ter acesso às áreas restritas a pessoas cadastradas, bastava fazer a carterinha de sócia que fica pronta em, literalmente, cinco minutos. É fácil conseguir informações sobre onde fazer o documento e, com ele em mãos, deve-se aproveitar para explorar as áreas menos conhecidas. A “Sala de Leitura Hispânica” (Hispanic Reading Room), apesar de diminuta, apresenta logo na entrada um mural de ninguém menos que Portinari.

Um nome que é constantemente mencionado quando o assunto é a Biblioteca do Congresso é o de Thomas Jefferson. Esse Pai Fundador dos Estados Unidos foi o responsável por idealizar pela primeira vez a biblioteca (e reabastecê-la vendendo sua coleção particular quando a primeira foi incendiada). Graças a seu interesse pelos diferentes campos do conhecimento, a biblioteca teve desde o começo a importante característica de reunir títulos sobre todos os assuntos, e não apenas temas ligados às ciências políticas. Ele também era fluente em seis idiomas, nos quais possuía diversos livros. Não satisfeito, tinha também um sem número de títulos em pelo menos outras três línguas que não dominava e um dia pretendia aprender. Ao ouvir esta última informação, mencionada pela senhora que me guiava pelo salão de entrada do prédio, olhei para o teto e percebi a imensidão daquele prédio e do conhecimento humano que ele abriga. Confesso: meus olhos se encheram d’água e um único pensamento tomou minha cabeça. “É, Tom... Nós teríamos nos dado muito bem”.

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  1. Sacrée Gabriela! Se não conhece, sugiro que visite também a biblioteca de Oxford, que, segundo o que me disseram os amigos ingleses, guarda no subsolo da cidade exemplares de TODOS os livros publicados na Inglaterra! Vale conferir, né?

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