sexta-feira, 16 de maio de 2014

Bagagens: Bélgica, Bruxelas

{Prédio do Musée du Cinquantenaire, em Bruxelas}

Gosto de viajar sozinha. É claro que viajar acompanhada é maravilhoso. Mas ainda que a falta de alguém para partilhar as aventuras tenha o seu peso, a sensação de estar por sua conta e risco em uma cidade desconhecida me encanta bastante. A primeira vez que me vi nessa situação foi aos 21 anos, no final do meu intercâmbio na Europa. Depois do término das minhas aulas, comecei a viajar com o meu marido (naquela época ainda namorado) por algumas cidades do continente. Ao sair de Amsterdã, nosso destino seria Bruxelas, mas ele tinha que voltar a Madri para fazer uma prova. Decidimos então que eu seguiria para a Bélgica e ele me encontraria lá dois dias depois.

Bruxelas foi uma grata surpresa para mim, principalmente pela gentileza dos habitantes, que contrastava com o frio da neve que chegava ao tornozelo. Minha maior curiosidade era conhecer os prédios da União Européia, tour que durou, com vagar, meia hora. Depois disso, não tinha muito o que fazer e resolvi arriscar a visita ao Museu Real do Exército e da História Militar, destacado no meu mapa. Seguindo as indicações, cheguei num parque totalmente deserto, que pode ser visto na foto acima. Meio assustador, confesso. De toda forma, fui cruzando com dificuldade o gramado cheio de neve até alcançar o palácio em frente. Chegando lá, descobri que havia me confundido e não se tratava do museu militar. Fiquei decepcionada, mas a senhorinha na bilheteria me garantiu que eu também ia adorar aquele museu. Eu tinha acabado de chegar aos Museus Reais de Arte e História. Isso mesmo, não era apenas um museu, mas um conjunto deles. Achei que a senhora estava apenas querendo valorizar o lugar em que trabalha, mas calculando o frio que fazia lá fora, achei que aproveitar a calefação do prédio não era de todo uma má idéia. Comprei o ingresso e entrei sem grandes expectativas.

Logo na primeira sala, uma única pergunta vinha à minha cabeça: “como eu nunca ouvi falar nesse museu antes?”. Imagine o British Museum. Agora, imagine o Louvre. Só que imagine esse naipe de museu sem um único visitante, assim, só para você. Esse é o prédio principal dos Museus Reais de Arte e História de Bruxelas, conhecido como Musée du Cinquantenaire. Lá, vi mais peças incas do que na maior parte dos museus do Peru. Vi obras dos antigos Impérios da Indochina e acho que foi ali que brotou pela primeira vez a curiosidade de ir ao Vietnã e ao Camboja (meu destino dos sonhos número 1 do momento). Mas, de longe, o que mais me chamou a atenção foi entrar numa sala e dar de cara com um moai da Ilha de Páscoa. Fiquei encarando sozinha aquela imensa cabeça de pedra por um longo tempo. Sei que foi ali que decidi, mesmo anos antes de casar, que a ilha seria meu destino de lua de mel.

Quando digo que estava sozinha no Museu, não é força de expressão. Pouco antes das 17h, quando estava passando por uma enorme sala cujo chão era a reconstrução peça por peça de um mosaico romano, as luzes começaram a ser apagadas, sem qualquer aviso prévio. Temendo viver a história do filme “Uma Noite no Museu”, corri até a entrada. Fui avistada pelos funcionários com alguma surpresa e passei pela porta junto com outros dois ou três visitantes perdidos que deviam estar na mesma situação que eu. Até hoje, acho toda essa tarde tão surreal que tenho dificuldade de crer que não foi um sonho. Nessas horas, procuro entre as minhas relíquias de viagens a brochura do museu, única prova de que aquilo tudo não foi uma alucinação.

Se quiser ter uma idéia da grandeza da coleção do museu, dê uma espiada no site deles.


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  1. Que bela descoberta, hein? Valeu a dica, irei lá quando for à Bélgica (e também nunca ouvi falar nele…). Musée en exclusivité, c'est chic!

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