terça-feira, 20 de maio de 2014

Sob o mesmo céu

{Pôr-do-sol no porto de Darwin, extremo norte da Austrália}

No meu último dia em Sydney, depois de um mês longe de casa, falei uma última vez por Skype com o meu marido para confirmar os últimos dados do vôo. Aproveitamos para botar um pouco a conversa em dia. O meu retorno ao Brasil levaria mais de 24 horas e com isso não nos falaríamos no dia seguinte. Na despedida, André me fala algo que não tinha chamado minha atenção até aquele momento.

- Esse seu vôo deve ser bem interessante. Você vai passar pela Linha Internacional de Data.

Essa linha imaginária de fuso-horário que passa por cima do Pacífico divide um dia do outro. Ao atravessá-la saindo da Austrália em direção à América do Sul, eu “voltaria” um dia. Ou seja, passaria da noite do dia 13 de novembro para o nascer do dia do mesmo 13 de novembro. Sendo uma linha imaginária como a de todos os fusos-horários e fronteiras, eu provavelmente não saberia em que momento estaria cruzando a tal separação.

O vôo entre Sydney e Santiago do Chile foi tranqüilo. Sentei no corredor da fileira do meio, como sempre faço quando posso. Cochilei aquele sono entrecortado de quem vai sentado numa cadeira da classe econômica. Numa dessas acordadas, dei uma olhada no monitor individual em frente ao meu assento. Pelo mapa que mostra o trajeto percorrido, pude ver que estava justamente atravessando a Linha Internacional de Data. Por sorte, um passageiro à minha direita havia esquecido a janela aberta e pude ver o começo do nascer do sol. Do alto, via a curvatura da Terra emoldurada por uma faixa laranja, que contrastava com o azul arroxeado do céu. Não sei bem porque, mas o sol não nasceu por longos minutos, talvez por alguma combinação de tempo entre a velocidade do avião e a rotação do planeta. Por um longo período, fiquei sozinha observando aquele fenômeno extraordinário. Depois de 30 dias do outro lado do mundo, foi a vez em que mais senti saudade do André.

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Outra vez, rumo a São Francisco, estava mais uma vez sentada na cadeira do corredor da fileira do meio da aeronave. Já estava de noite quando o avião se aproximou da Flórida, onde faria conexão. Uma moça sentada na fileira da esquerda, também no corredor, chamou a minha atenção com um gesto e perguntou baixinho se eu sabia a diferença de fuso-horário entre o Rio de Janeiro e Miami. Respondi o horário que ela deveria programar no seu relógio, ela agradeceu, eu voltei a me distrair com os preparativos antes do pouso. Um minuto depois, a moça fez novamente movimento para que eu olhasse para ela e quando me virei, fui recebida com um sorriso imenso.

- Olha só a lua!

A manobra do avião permitia ver uma imensa lua cheia que completava todo o espaço da pequena janela do avião. Não havia como não sorrir também. Terminando de arrumar tudo dentro da minha bolsa, me peguei pensando: enquanto houver pessoas capazes de convidar desconhecidos para ver a lua, a humanidade não estará totalmente perdida.

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  1. deve ter sido muito legal cruzar a linha internacional da data! Queria ter estado la com você!

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  2. Gostei! Sou fã da Lua e da esperança na humanidade.

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  3. Fernando Cavalcanti25 de maio de 2014 às 16:57

    ...enquanto houver pessoas capazes de convidar desconhecidos para ver a lua, a humanidade não estará totalmente perdida.

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