sexta-feira, 18 de julho de 2014

Bagagens: Austrália


{Nesse vídeo, é possível ver a forma e o jeitão de um canguru}

A Austrália nunca esteve entre os meus desejos de destino para viagem. Tem um ar descolado que não combina muito comigo e fica longe de praticamente tudo, o que faz com que não configure como aqueles lugares que você dá uma passadinha só porque está no seu caminho. Bem, foi assim até eu decidir ir a Timor-Leste e optar pela rota via Pacífico para chegar até lá.


Como a Austrália era parada obrigatória no percurso, decidi passar ao menos uma semana no país de proporções continentais. A verdade é que eu ainda não sabia como seria o dia-a-dia em Timor e pensei que, se tudo desse errado, pelo menos essa semana na Austrália serviria para que a epopéia não fosse em vão. O “problema” foi que o tempo em Timor foi maravilhosamente mágico e a semana na Austrália se tornou uma pedra no caminho: me roubava uma semana em Díli (capital timorense) e ainda se interpunha à minha volta para casa, de onde começava a sentir saudade. Em suma, cheguei a Darwin com uma má vontade dos infernos e a cidade – que foi bem descrita por uma pessoa que conheci em Timor como “um subúrbio americano com um calor equatorial” – não ajudou muito. Cheguei a Sydney ainda mais desanimada depois dos dois dias em Darwin e sem muita perspectiva de mudar meu entusiasmo.

Havia uma única coisa que ainda podia valer a viagem: os bichos exóticos do país. Sou obrigada a dizer que, para mim, eles (e o concerto na Ópera de Sydney) foram o que fizeram valer a estadia. Primeiro, é preciso que se diga que a Austrália é o local com o maior número de animais peçonhentos do mundo. Além disso, sua costa (principalmente na parte norte) é infestada de crocodilos e tubarões. Isso faz com que, não sem razão, algumas pessoas tenham certo pânico de visitar o país ou em se aventurarem nas áreas não-urbanas. Não tinha me atentado muito a isso até perceber em mais de um museu/zoológico áreas dedicadas a desmistificar os perigos da fauna australiana. O engraçado é que, depois de um cartaz explicando que você não deve se preocupar, invariavelmente havia uma seção dizendo algo como “mas já que você está aqui, vamos contar-lhe sobre os animais dos quais você deve manter distância”. A seguir, um corredor enorme com imagens e descrições levemente perturbadoras.

Conheci nos zoológicos de Sydney animais que eu sequer era capaz de imaginar. Alguns provenientes da Austrália, outros vindos das redondezas da Ásia e Oceania. Uns bichos muito bizarros, inclusive um tal de Binturong, conhecido como uma mistura de gato com urso. Vi cara a cara um dragão de Komodo, hipopótamos pigmeus e elefantes asiáticos (daqueles marrons, iguais aos do desenho “Mogli, o Menino Lobo”). Porém, sem dúvida, os mais exóticos eram mesmo aqueles provenientes da Austrália, que inclusive dividem as moedas locais com a efígie da rainha Elizabeth II. Há a echidna, uma espécie de porco espinho simpático que caminha rebolando. Há também o famoso diabo da Tasmânia, que passa o dia todo dormindo e é uma bolinha de pêlos pretos que não assusta ninguém. O ornitorrinco é mesmo uma graça, mas bem menor do que eu imaginava, pois não passa do tamanho de um pequeno gato. O coala tem a vida mais invejável: dorme 20 horas por dia e passa as outras quatro comendo. E, sim, eles são muito bonitinhos comendo eucalipto, embora seu nariz seja meio engraçado, parecendo com uma mini tromba de elefante cortada rente a cara do bichinho. Mas nada havia me preparado para ouvir as informações que recebi sobre os cangurus. Juro que não as inventei, elas me foram contadas pelos especialistas do zoológico. Você logo perceberá que eu não seria capaz de ter uma imaginação tão fértil. Deixo você com essas inquietações para o fim de semana:



1. alguns cangurus, inclusive os grandes, são exímios escaladores de árvores;

2. eles não conseguem andar para traz em decorrência das enormes patas traseiras e do musculoso rabo. Por causa disso, se sentem especialmente ameaçados quando alguém se aproxima muito deles (eles não podem manter distância se afastando de marcha ré). Nesse caso, tentam atingir sua ameaça balançando suas patas dianteiras, mas isso é só uma forma de assustá-la. Quando eles querem realmente machucar seu adversário, jogam o peso para traz e se projetam para frente com o impulso dado pela calda, acertando o alvo com muita força com seus pés gigantescos. Esse impacto pode facilmente matar um ser-humano;

3. a gestação de um canguru dura em média 30 dias. O bebê sai do útero da mãe-canguru ainda muito prematuro (do tamanho de um chiclete, pelo que dizem) e vai escalando a calda dela até chegar à bolsa que ela (como todos os marsupiais) tem na barriga. Por lá, o bebê ficará mamando até completar mais ou menos um ano de vida. O detalhe mais estarrecedor é que, como o tempo de gestação é muito curto, a fêmea-canguru pode ter vários filhotes – um de cada vez – em um espaço de tempo bem curto. Todos eles vão ter que conviver durante um longo tempo espremidos na sua bolsa. Só que, como cada um necessita de um leite com características específicas pelo seu tempo de desenvolvimento, cada uma das tetas da mãe-canguru, que ficam dentro da bolsa, irá produzir um tipo de leite diferente para se adequar a necessidade de cada filhote que está lá dentro;

4. e se você achou que essa era a informação mais louca sobre o desenvolvimento dos cangurus, saiba que guardei o mais inusitado para o final. As fêmeas-canguru têm a capacidade de estagnar a gestação. Se perceberem que o ambiente está hostil ou que não apresenta recursos suficientes para o desenvolvimento do filhote, a fêmea pode simplesmente “congelar” a gestação durante um dos seus 30 dias. Essa pausa pode se estender por até um ano. Quando decide que está na hora de ter o bebê-canguru, a gestação continua de onde parou e o bebê nasce e passa por todo o processo de crescimento na bolsa, como se nada tivesse acontecido.

Tenho certeza que a Humanidade tinha muito a ganhar se o mesmo processo fosse possível entre seres-humanos.

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  1. Amei as curiosidades ! Apesar de bizarro, acho que gostei ainda mais dos cangurus ! hahahaha

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  2. Eu simplesmente ia morrer e não ia saber disso!! hehehe.
    Adorei as curiosidades, Você acaba de conquistar pessoas do Norte do Brasil, cada post com inúmeras experiencias legais. O melhor de tudo você transmite de forma tão clara que me da gosto de ler again again and again!!!!

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    1. Os animais australianos são mesmo interessantíssimos e, se não fosse o que aprendi visitando os zoológicos de Sydney, eu também jamais saberia. Obrigada por visitar o blog!

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