terça-feira, 1 de julho de 2014

Trem bom

{Vista da janela do trem no trajeto entre Amsterdã e Bruxelas}

Não sou a maior fã de aviões. Podem até ser estatisticamente o meio de transporte mais seguro, mas continuam não sendo o meu preferido. Como se não bastasse, a epopéia que se tornou fazer todos os trâmites legais no aeroporto deixou as viagens aéreas ainda menos atraentes para mim.
O que eu gosto é de trem, mesmo quando é um pouco mais demorado e apesar de ser mais trabalhoso do que avião no quesito carregar malas grandes.

Infelizmente, no Brasil as possibilidades hoje em dia são quase inexistentes. Porém, a minha primeira lembrança afetiva com ferrovias vem de quando ainda era possível fazer o trajeto entre Rio e São Paulo com o “Trem de Prata”. Fazíamos a viagem à noite e chegávamos à terra da garoa de manhã cedinho. Uma pena que a ferrovia tenha sido abandonada. Como diz o meu pai, existem várias coisas boas que vão sendo “des-inventandas”.

É bem verdade que tem os seus perrengues. Já fiquei parada três horas durante o inverno num trajeto entre Amsterdã e Bruxelas porque um caminhão havia derrapado na neve e caído nos trilhos. André já teve menos de dois minutos para descer numa estação carregando duas malas de mais de 20 quilos. Uma vez, peguei um trem errado com os meus pais indo de Roma para Florença. Por sorte, ele ia para o mesmo destino e, sabe-se lá porque, parou na mesma plataforma de onde sairia o nosso trem, exatamente no mesmo horário. Para azar de outros passageiros que também entraram errado, ele não seguiria para Veneza, como o trem certo. Não sei o que aconteceu com eles.

Não importam os percalços, o tempo passa diferente quando visto pela janela do trem. Além disso, comparando com os aviões de hoje em dia, costumam ter mais espaço para sentar e, o melhor de tudo, ainda contam com vagão-restaurante. Não sei bem porque, mas adoro vagão-restaurante. Para fechar com chave de ouro, apesar da cadência natural desse meio de transportes, não há turbulências. A áurea é outra. No dia que tiver dinheiro suficiente, ainda faço o trajeto entre Istambul e Paris no Expresso Oriente.

Mas a história mais pitoresca que me lembro em um trem foi na viagem em que o André estava usando pela primeira vez esse transporte. Já tínhamos nos deslocado pela Suíça pela via férrea e, depois de alguns dias no sul da França, seguíamos para Paris. Um casal de avós viajavam com os netos, um menino e uma menina, no mesmo vagão que nós. Logo que as crianças sentaram a começaram a comer o lanche trazido pelos adultos, André começou a encarar longamente o menino, e assim foi durante quase toda a viagem. Não sabia se o André estava absorto por estar enjoado pelo balanço, se havia sido tomado por um repentino instinto paternal ou alguma terceira opção. Fui tentando desvendar o mistério durante todo o trajeto. Assim que chegamos a Paris e deixamos as malas no hotel, avistamos um supermercado e a história foi solucionada: André comprou dos pacotes enormes de biscoitos de chocolate com um principezinho desenhado no recheio. Ele havia passado a viagem inteira invejando o biscoito das crianças.

Deixe suas impressões
(sobre a vida, o universo e tudo mais):

  1. Mas é que o biscoito tava com uma cara muito boa! Tava gostoso também...

    ResponderExcluir