sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Bagagens: Brasil, Itaipava


{Sapos gorduchos de um zoológico de Sydney, na Austrália}

Quando admiramos alguém, queremos de alguma forma encontrar algo que nos conecte ao ser admirado. A data de nascimento, um gosto pouco usual, um endereço, qualquer coisa que aproxime o ídolo do fã.
Não é novidade que adoro Graham Greene e que, para mim, a vida poderia ser uma aventura escrita por ele

Lendo O Lobo Solitário, qual não foi minha surpresa ao descobrir que temos uma experiência em comum:

“Aquela noite no banheiro fiquei muito assustado. Fui urinar e havia um pedaço de papel marrom no vaso sanitário. Quando o xixi caiu em cima dele o fragmento marrom pulou para fora do vaso e aterrissou na parede acima da minha cabeça. Era uma rã. Talvez seja a lembrança mais duradoura de minha visita à Cuba comunista. Nunca tinha ouvido dizer antes que uma rã pudesse pular mais do que seis pés numa decolagem vertical.” (O Lobo Solitário, Graham Greene, p.222)

Sim, Graham, elas podem. E ficam ainda mais desesperadas quando estão presas dentro do box do chuveiro.

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Eu devia ter cinco anos. Estava com meus pais e minha babá em um hotel para o qual íamos com freqüência nos fins de semana. Ele costumava atrair mais hóspedes da terceira idade, mas naquela data em especial havia reunido um grupo considerável de crianças. Começamos a brincar juntos e depois de certo tempo todos já estavam entediados por não ter mais o que fazer. A piscina, que seria naturalmente a maior atração, era muito funda para os menores, o que limitava a brincadeira. Minha mãe teve a idéia de pedir a um funcionário uma mangueira para dar banho na meninada no jardim. Foi uma algazarra! Todo mundo vestido com roupa de natação pulando e chafurdando na lama que se formava em baixo de nós.

Acabado o banho de mangueira, cada um voltou para seu quarto para tomar banho. Fui para o apartamento que dividia com a minha babá, bem ao lado do quarto onde estavam meus pais. Entrei no chuveiro com o biquíni e o chinelo, para deixar que a lama saísse com a água corrente. A minha babá veio até o banheiro para comunicar que na minha nécessaire não havia nenhum shampoo e que iria ao quarto dos meus pais pegar um emprestado com a minha mãe. Recomendou que eu tomasse cuidado para não escorregar e que ficasse quietinha no box para não molhar o restante do quarto. Obedeci. Enquanto esperava o seu retorno, fui me distraindo empurrando com o pé até o ralo as folhinhas que vieram presas no meu chinelo. Até que uma delas ganhou vida e começou a saltar feita louca pelo box.

Não sei descrever o pavor de uma criança de cinco anos ao ver uma folha pulando de forma ensandecida pelo box do chuveiro. A compreensão de que aquilo era uma perereca com certeza não foi imediata. Dei um grito e saí do box como pude, o que significou quebrar o abridor da porta de vidro na minha saída desesperada. Por muito pouco o vidro não quebrou em cima de mim.

Com o barulho do grito mais o choque contra o vidro, minha mãe e minha babá vieram correndo. Eu, nua e catatônica, só conseguia chorar e balbuciar sem muito nexo. Pouco depois, elas compreenderam o que tinha acontecido. Minha babá foi chamar um funcionário para pedir que alguém tirasse o anfíbio do banheiro, enquanto minha mãe fazia o que sempre faz em situações como essa: ria até não poder mais.

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Reza a lenda que, uma vez, um amigo fazendeiro dos meus pais chegou à sua casa de campo com uma baita dor de barriga. Sem nem mesmo acender as luzes do banheiro, sentou no vaso sanitário para aliviar seu sofrimento. O caso era que havia um sapo adormecido lá dentro, que acordou assim que foi atingido pelo primeiro... bem, você entendeu. Assustado, o sapo agiu exatamente como a rã de Graham Greene do começo deste texto. Porém, sem espaço para escapar, grudou-se ao que encontrou na tampa do vaso. Ou seja, ao amigo dos meus pais. Pois é, engraçado, mas nada agradável.

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