sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Bagagens: Brasil, Rio de Janeiro

{Lagoa Rodrigo de Freitas à direita com o morro Dois Irmãos ao fundo}


Dizem que as pessoas, se obrigadas a conviver com a feiura, se habituam a ela, numa espécie de processo de brutalização. Embora menos drástica, acredito que a convivência com o belo também cria um hábito, o que acaba criando certa alienação pela falta de percepção de que o belo não é a única realidade.
Isso tem implicações muito sérias, mas eu vim mesmo foi falar do dia em que me apaixonei pelo Rio de Janeiro.

Não é novidade aqui que sou apaixonada por Lisboa. Os seis meses em que morei lá foram lindos e meu coração ainda bate mais forte quando penso naquelas ladeiras (que são muitas!). Porém, até ir para lá, nunca tinha dado muita bola para o Rio. Nasci e cresci aqui, por isso esse bocado de verde e mar se tornou uma visão banal para mim. E é preciso mais do que uma viagem de férias para fazer a gente sentir saudade de verdade da paisagem que se vê todo dia. Até o meu retorno, não sabia o quanto tinha sentido falta de tudo isso.

Quando pisei no aeroporto do Galeão e fui recebida pelo meu namorado (ele mesmo, o marido de hoje), meus pais e meu avô, ainda estava anestesiada. Por sermos muitos, ainda mais contando com malas de seis meses, nos dividimos em dois carros e fui no banco do carona no carro que o André dirigia. A sensação de voltar para casa é um tanto surreal. Tudo era igual, tudo estava exatamente do mesmo jeito que estava quando fui embora e tudo que eu conseguia sentir era que parecia que eu não tinha passado mais do que uma semana fora. Aqueles seis meses foram um parênteses inesquecível e enquanto isso a vida ficara toda aqui pronta, em stand by.

Passamos pela ilha do Fundão – para onde voltaríamos algumas horas depois para assistir à banca de defesa de um amigo – atravessamos a Linha Vermelha vendo o centro da cidade de cima. Cruzamos a primeira galeria do Túnel Rebouças e eu ainda estava mergulhada nos meus devaneios. Porém, depois da segunda galeria, após alguns segundos com a visão ofuscada pela luz repentina, me vi defronte à Lagoa Rodrigo de Freitas, a vista que representa o Rio para mim desde que nasci. Ali, bem perto da Fonte da Saudade, onde os carros passam mais perto do espelho d’água, vi o reflexo do corcovado e aquele paredão verde cercando a lagoa. Meu coração deu um pulo. Naquele dia descobri que, apesar de todos os defeitos, eu amava o Rio, mas não sabia.

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  1. Belo texto! E cada vez que você voltar de viagem terá a oportunidade de testar esse amor.

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