quarta-feira, 17 de setembro de 2014

George Orwell

{Minha estante dedicada a George Orwell}

Sou grande admiradora do George Orwell e isso nunca foi novidade para os meus amigos. Queridos como eles são, sempre me enviam textos que fazem referência ao autor, já recebi duas fotos tiradas por amigos diferentes da porta da casa em que ele viveu em Londres e já fui presenteada com um livrinho sobre seus textos perdidos que foi salvo por uma amiga de uma biblioteca particular que estava sendo desmontada.

Se nunca falei com calma sobre ele no blog antes, foi pelo mesmo pudor que nos leva a preservar nossa família: podemos reclamar à vontade, mas nunca estamos prontos para ouvir uma crítica vinda de terceiros. Mexeu com George Orwell, mexeu comigo.

Seguindo a idéia de publicar cartas que enviei a um professor na graduação de comunicação, copio uma em que falo sobre algumas impressões pessoais sobre 1984, provavelmente o livro mais famoso do escritor inglês. Fico devendo aqui um texto mais detalhado sobre o meu ídolo. De toda forma, na carta explicito um dos meus pontos principais sobre essa obra distópica.

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            Rio de Janeiro, 6 de Jumada‘I Akhira de 1429

Caro professor XXX,
infelizmente, não consegui terminar de ler Um Diário do Ano da Peste a tempo de escrever a carta. Como não avancei muito na leitura, a análise que posso fazer no momento é bastante superficial. Mas, pelo menos até agora, estou impressionada com o livro. Se eu não tivesse lido a introdução e descoberto que Daniel Defoe não era nascido na época em que a peste matou milhares em Londres, poderia jurar que o relato é tirado do diário de um sobrevivente. Não são só os detalhes e os números que passam essa idéia de realismo. A forma como o eu-lírico relata sua decisão de ficar em Londres e suas reações ao longo do agravamento da contaminação parecem muito reais. Espero continuar gostando do livro até a última página.

O outro livro sobre o qual resolvi escrever é 1984. Como você deve ter percebido depois da carta sobre o filme Alphaville, adoro esse livro.

A primeira vez que o li foi em 2002, aos 13 anos. Como aconteceu com meus dois livros favoritos (1984 é um e A Insustentável Leveza do Ser é o outro) comecei a ler bem devagar, deixando o livro de lado por um tempo, e, depois, quando a leitura engrenou, terminei muito rápido, já com a intenção de buscar todos os outro livros de George Orwell que conseguisse. Foi o que fiz e acabei me tornando uma grande fã do escritor. Mas voltando ao 1984...

Acho que a sensação que melhor se aproxima do que senti foi fascinação. Acho incrível a forma como Orwell constrói um mundo tão utópico, mas ao mesmo tempo tão parecido com a imagem da antiga URSS. As alegorias que ele usa para criticar o regime comunista e a sociedade de controle são muito elaboradas e ao mesmo tempo muito claras de se compreender. Tudo é bem pensado, desde o nome dos Ministérios até os termos que ele inventa, como vaporização e novilíngua.

XXX, tenho uma teoria meio estranha sobre o final do livro (e meio boba, talvez) que ninguém nunca gostou muito, mas que queria dividir com você. O livro termina com a frase “Amava o Grande Irmão”. Com isso, a conclusão óbvia é que a rebeldia de Winston foi vencida e de que mais uma vez o ideal alienante do Partido prevaleceu. Mas, no capítulo 21, enquanto está sendo torturado, Winston se dá conta de uma coisa muito importante: “Pela primeira vez viu que para guardar segredo é preciso escondê-lo também da própria consciência. Deve-se saber todo o tempo que o segredo está ali mas, até o momento de usá-lo,  é preciso não permitir que venha a furo sob nenhuma forma a que se possa dar nome.”. A partir daí, Winston pensa que, se no momento em que ele souber que vai morrer (com uma bala na nuca, e, segundo ele, deve ser possível pressentir o momento) as idéias subversivas, completamente escondidas dentro de si próprio, vierem à tona em sua mente, ele terá vencido o Grande Irmão. Acho que essa passagem não teria sido incluída no livro sem um motivo. Por isso, acredito que quando Winston “descobre” que ama o Grande Irmão, na verdade ele conseguiu desenvolver plenamente esse mecanismo.

Por todas essas possíveis interpretações, 1984 é, sem dúvida, um dos melhores livros já escritos.

Até a próxima e boas férias

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