quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Gratidão

{Frase sobre meio-ambiente no Oceanário de Lisboa que também se aplica à solidariedade}

Com todas as revisões da dissertação feitas, e depois de um curto período de procrastinação, comecei a enviar uma cópia do trabalho às pessoas cujos nomes constam da parte de agradecimentos.
Isso tem feito com que, mesmo que não intencionalmente, eu esteja revisitando as memórias que tenho de cada uma delas e de como foram gentis em ceder algumas horas de sua vida (em alguns casos, alguns dias ou semanas) para ajudar em um projeto que era meu. A maior parte delas nunca tinha me visto na vida, mas me ajudaram como se fôssemos amigos de longa data. Esse pequeno exercício de gratidão tem sido delicioso e me feito pensar em como é difícil tentar retribuir todo esse carinho recebido.

Há um tempo circulava na internet uma dessas espécies de fábulas apócrifas típicas dos meios eletrônicos. Para falar sobre gratidão, a historinha contava sobre um menino pequeno que entrou numa lanchonete e pediu um copo d’água. O dono, percebendo que ele estava faminto, lhe deu um copo de leite e algo para comer. Anos mais tarde, esse mesmo dono do restaurante precisou fazer uma cirurgia de urgência. Depois de tudo correr bem, ele foi levado para repousar em um quarto do hospital, onde percebendo a complexidade do procedimento ao qual fora submetido, entrou em pânico por não ter como pagar pela operação. Logo depois, chegou ao quarto uma enfermeira com a cobrança. Abaixo de uma cifra astronômica com todos os gastos, estava manuscrita a frase “já foi pago anos atrás com um copo de leite”. O cirurgião de agora era o menino faminto do passado. A história muda levemente de uma versão para outra, mas a moral é sempre a mesma.

A história que conto acima é sem dúvida bonita, mas na vida as coisas normalmente não acontecem assim. Não, não estou falando de ingratidão, mas do fato de que muitas vezes não podemos fazer nada diretamente pelas pessoas que nos estendem a mão, a não ser agradecer. Entretanto, de vez em quando, da mesma forma como pedimos ajuda, aparece alguém que pode se beneficiar de alguma maneira do nosso auxílio. Em casos como esses, normalmente encontro nos olhos e na voz do outro lado a mesma gratidão que às vezes reconheço em mim. Como já ouvi antes, repito para que a pessoa não se preocupe, que foi um prazer ajudar e que estou a disposição para o que mais ela precisar. É tudo verdade. Mas o que eu queria mesmo dizer é “não se preocupe, já estava pago por outras pessoas”.

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