quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Um ano do blog

{Placa na casa onde George Orwell morou na Portobello Road, em Londres}

Voltei! E só não digo que “agora é pra ficar” porque no que depender de mim sempre haverá viagens, aventuras e momentos em que a ausência é necessária para se viver a vida plenamente. Afinal de contas, o blog precisa de material. Como ouvi faz pouco tempo, "navio está seguro no porto, mas foi feito pra navegar”.

Porém, ainda que fosse preciso fazer a pequena introdução do retorno, hoje é dia de festa. Em 18 de fevereiro do ano passado, era publicado o primeiro texto d’ O Rio da Minha Aldeia dando as boas vindas aos leitores (que eu esperava que seriam basicamente só a minha mãe). A verdade é que criei o blog pouco antes de defender minha dissertação na certeza que, por escolher uma área de atuação ainda pouco difundida no Brasil, ficaria ao menos um ano desempregada. Minha idéia era ter alguma ocupação e aproveitar para aprender um pouco melhor como trabalhar com ferramentas de internet. O que aconteceu, para minha sorte, foi um pouco diferente e fiquei apenas um mês entre o fim do mestrado e o meu primeiro emprego no novo ofício. Muitas vezes ficou difícil atualizar o blog, mas nessas brincadeiras da vida, já tinha me afeiçoado demais a essa plataforma que criei descompromissadamente para abandoná-la. E é assim que chegamos aqui hoje, com apenas um texto por semana (no começo eram dois) publicado supostamente nas terças, mas que às vezes acontecem de entrar na quarta e por aí vai (desculpem, tem vezes que é inevitável).

Para quem não tem um blog é difícil entender a felicidade que é abrir a página de gerenciamento do site e ver que alguém escreveu um comentário. Ou o regozijo de chegar numa festa e alguém com quem você estudou anos atrás vir dizer que anda lendo o que você escreve. Ainda que sejam proporções diferentes, não fica nada longe da primeira vez que como jornalista você vê seu nome assinando uma matéria num veículo de grande circulação. Também não é fácil explicar a alegria que dá ao ver o blog sendo acessado em lugares tão remotos quanto China, Polônia ou Egito. Imaginar sua voz ressonando de alguma forma em países em que você nunca colocou os pés dá um sentimento de responsabilidade e ao mesmo tempo de comunhão impressionantes. Traz à tona de forma muito mais clara a sensação de que o mundo é tão grande, mas também tão pequeno... E quando o que se escreve é tão pessoal e autoral, a audiência tem um certo gosto de abraço, de cumplicidade.

Em um texto famoso do George Orwell (meu ator favorito) chamado “Why I write” (“Por que escrevo”, publicado no Brasil no livro Dentro da Baleia e outros ensaios), ele enumera e descreve as razões pelas quais se tornou escritor. Sem entrar no mérito de cada um deles, repito a lista aqui:

1. Puro egoísmo:
“O desejo de ser engenhoso, de ser comentado, de ser lembrado após a morte, de se desforrar de adultos que o desdenharam na infância e por aí vai.”
2.  Entusiasmo estético:
“A percepção da beleza no mundo externo ou, de outro lado, nas palavras e em seu arranjo correto.”
3. Impulso histórico:
“O desejo de ver as coisas como elas são, de encontrar fatos verídicos e guardá-los para o uso da posteridade.”
4. Propósito político:
“O desejo de lançar o mundo em determinada direção, de mudar as idéias das pessoas sobre o tipo de sociedade que deveriam se esforçar para alcançar.”

Acredito que há muita verdade nos motivos enunciados por Orwell. Na sua concepção, essas razões variam de intensidade de pessoa para pessoa e de acordo com a mudança das épocas históricas. Independentemente disso, acho que todas elas demonstram a idéia comum por trás de todos que resolvem de alguma forma escrever: de que o que escrevo é relevante e merece ser dividido. No caso específico deste blog, em que os textos falam basicamente da minha visão de mundo, exige-se muita pretensão para acreditar que eles têm alguma relevância. Mas muito obrigada por voltarem aqui vez ou outra e me fazer acreditar que de alguma forma eles têm sim. Esse aniversário de um ano é nosso. Obrigada por embarcarem nessa viagem interior comigo.

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(sobre a vida, o universo e tudo mais):

  1. Parabéns pelo primeiro aniversário! E por esse texto muito gostoso. Como fã e incentivadora de primeira hora, só posso desejar muitas outras primaveras.

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